Como funciona o processo de compostagem?
A compostagem é um processo biológico, em que os microrganismos transformam a matéria orgânica, como estrume, folhas, papel e restos de comida, num material semelhante ao solo, a que se chama COMPOSTO, e que pode ser utilizado como adubo.
Muito erradamente, a maioria das pessoas julga que se trata, ou de um processo industrial a implementar perto de localidades para resolver o problema dos resíduos sólidos urbanos orgânicos, ou de algo que só se faz quando se tem um jardim, uma horta, uma pequena exploração agrícola. Enfim, fica a ideia que todas as pessoas que vivem em espaços urbanos, com o jardim reduzido a uns vasos e umas floreiras na varanda ou mesmo dentro de casa, não podem pensar em reaproveitar os restos que lhes enchem o caixote do lixo todos os dias.
Todavia, essa ideia não corresponde à realidade, e por isso quero deixar aqui umas dicas sobre como se pode implementar este tipo de procedimento em cada casa e, com ele, reduzir consideravelmente o lixo orgânico produzido diariamente,
para além de o poder reutilizar como composto para as plantas de interior e exterior, mesmo que apenas em vasos e floreiras. Multiplicando este processo que aqui apresento à devida escala, o mesmo pode ser utilizado em escolas, hotéis, restaurantes, bares e toda e qualquer empresa que tenha um espaço reservado à produção ou ao consumo de produtos alimentares.
De acordo com dados recentes, estima-se que em Portugal cada indivíduo produz cerca de 4 kg de resíduos sólidos urbanos por dia. Destes resíduos sólidos urbanos a maioria são compostáveis e podem ser utilizados para correcção de solos depois de submetidos a um dos diversos tipos de tratamento existentes para o efeito.
Entre os maiores e mais graves problemas que os resíduos sólidos urbanos provocam à comunidade, destacam-se:
- Odores desagradáveis;
- Contaminação de solos;
- Poluição atmosférica durante a incineração;
- Fogos perigosos nos aterros, produzidos pela libertação de biogás – metano, amoníaco – altamente inflamável;
- Contaminação de águas subterrâneas e superficiais através da escorrência e infiltração;
- Presença de roedores e insetos, transmissores de várias doenças;
- Falta de espaço e muitas vezes de vontade das populações locais, para a construção de aterros e incineradoras.
A compostagem traz inúmeras vantagens e na maioria dos casos todas ou quase todas podem ser aproveitadas dentro de casa. E para isso basta perder algum tempo a pensar no assunto e a encontrar a melhor solução para cada caso. Algumas das vantagens mais fáceis de identificar são:
- Processo simples e de fácil implementação;
- Produção de um corrector de solos orgânico e não poluente, deste que não sejam utilizados dejectos, que pode ser utilizado nos vasos e floreiras ou directamente no jardim;
- Melhoria das características gerais dos solos, tais como maior porosidade e retenção de água, que leva à melhoria das condições biológicas dos mesmos e permite usar menos os solos à venda nos supermercados e lojas da especialidade e, substituí-los total ou parcialmente por solos à partida menos ricos mas que podem ser corrigidos pelo composto;
- Possibilita a resolução do problema da deposição final de grande parte dos resíduos sólidos urbanos.
MINHOCAS SELVAGENS - o agente compostor
O método aqui proposto por mim utiliza como agente compostor uma minhoca vermelha da terra, conhecida por Minhoca Californiana ou Eisenia fétida. Encontra-se em terrenos húmidos e é muito frequente nas zonas rurais Portuguesas.
É a minhoca mais usada na decomposição de resíduos orgânicos porque:
- Facilmente coloniza estes restos – uma minhoca vermelha gera, em condições óptimas, cerca de 1500 crias por ano, sendo possível iniciar um compostor com um nº reduzido de minhocas e depois esperar que estas colonizem toda a estrutura;
- Tem uma grande longevidade – cerca de 16 anos;
- Resiste a elevados teores de humidade;
- É muito tolerante a variações de temperatura;
- Ingere diariamente o seu peso em comida e transforma em composto 60% do que ingere, produzindo um adubo orgânico muito rico em flora bacteriana – cerca de 2000 milhares de bactérias vivas e ativas, por cada grama de húmus produzido;
Existem outras espécies de minhocas vermelhas muito parecidas com a Eisenia fétida, que apenas se distinguem pela configuração da parte terminal que é arredondada e estriada, enquanto noutras espécies é pontiaguda, ou não é estriada – a questão é que a Eisenia fétida se reproduz 9 a 20 vezes mais ao fim de dois anos.
Condições de sobrevivência ótima da minhoca vermelha da Califórnia:
CONDIÇÕES e REQUISITOS
Temperaturas - 15-20º C (limites 4-30º C)
Teor de humidade - 80-90% (limites 60-90%)
Necessidade em oxigénio - Aeróbias
Quantidade de amónia nos resíduos - Baixo: % de N): restos de vegetais crus; cascas de batata; legumes; cascas de fruta; borras de café, incluindo filtros; restos de pão; arroz e massa cozinhados; cascas de ovos esmagadas; folhas e sacos de chá; cereais; folhas verdes; ervas daninhas (sem sementes); restos de relva cortada e flores e restos de comida cozinhada. Castanhos (> % de C): feno e palha; aparas de madeira; serradura; relva e erva seca; ramos pequenos; folhas secas e pequenas quantidades de cinza de madeira.
MATERIAIS NÃO COMPOSTÁVEIS: carne, peixe, lacticínios e gorduras (queijo, manteiga, molhos), porque rançam e são difíceis de digerir; excrementos de animais (podem conter microrganismos patogénicos, que sobrevivam ao processo de compostagem); resíduos de jardim tratados com pesticidas; plantas doentes ou infestadas com insetos; cinzas de carvão; ervas daninhas (com sementes); têxteis, tintas e pilhas; vidro, metal e plástico e medicamentos e outros produtos químicos.
Para proceder à construção do compostor há que seguir os seguintes passos:
1. Fazer os orifícios de entrada de ar, na tampa e na parte superior das paredes da caixa com um berbequim ou um ferro em brasa;
2. Cortar a rede mosquiteira no tamanho necessário para forrar a caixa e a tampa e colá-la;
3. Fazer uma cama de minhocas com tiras de papel de jornal húmidas (1 parte de jornal : 3 partes de água), e colocá-las dentro do compostor;
4. Adicionar 3 a 4 chávenas de terra de jardim;
5. Colocar as minhocas e os materiais orgânicos compostáveis, cortados em pedaços pequenos, para facilitar a decomposição;
6. Revolver cuidadosamente com um ancinho pequeno;
7. Colocar uma folha de papel de jornal seca a tapar;
8. Fechar o compostor.
Para proceder à manutenção semanal do compostor deve se proceder da seguinte forma:
1. Afastar a camada superior de jornal e verificar o desenvolvimento das minhocas;
2. Juntar matéria orgânica compostável, espalhada uniformemente, de acordo com o desenvolvimento das minhocas;
3. Adicionar água;
4. Revolver o material;
5. Voltar a colocar uma folha de papel de jornal seco;
6. Fechar o compostor.
Três a quatro vezes por ano deve-se renovar a cama de minhocas, procedendo da seguinte maneira:
1. Mover o composto para um dos lados;
2. Colocar uma nova “cama de minhocas”, na metade livre;
3. Adicionar matéria orgânica só à nova cama;
4. Uma a duas semanas mais tarde, retirar o composto e completar a cama da mesma maneira;
5. Substituir a rede, se necessário.
Para evitar o aparecimento de moscas, aqui ficam algumas sugestões:
- Não usar alimentos podres;
- Não dar demasiada comida;
- Enterrar os alimentos na “cama das minhocas”;
- Manter a humidade;
- Colocar uma folha de jornal seca por cima;
- Retirar a comida em decomposição;
- Colocar uma taça com vinagre e uma gota de detergente da louça perto do compostor;
- Após o aparecimento de moscas, não colocar restos de comida durante duas a três semanas, de forma a prevenir o aparecimento de novas larvas.
Podem por vezes surgir odores desagradáveis, fáceis de evitar da seguinte forma:
- Se houver excesso de humidade – adicionar tiras de jornal secas e matéria orgânica com pouca água;
- Revolver o compostor para que o ar entre;
- Não colocar alimentos difíceis de compostar.
Se as minhocas começarem a morrer ou fugirem da caixa, rever todos os procedimentos e fatores, que influenciam a sua sobrevivência.
Texto e foto cedidos por: Minhocas Selvagens
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